Vinil na eletrola!
Foi nesta eletrola valvulada Philips (FR 680A, de 1961), da foto, que escutei meu primeiro disco de vinil. Estávamos no meio da década de 70, e tenho quase certeza que foi o refrão contagiante de País Tropical, com Jorge Benjor.
Mas a memória trai, e pode ter sido a voz límpida de Clara Nunes, em Conto de Areia: “É água no mar/ é maré cheia, ôi/mareia, ôi/mareia”. Mas lembro, seguramente, que em algum momento depois foi Gal e Bethânia com sua harmonia inigualável, em Sonho Meu.
Minhas primeiras lembranças musicais têm trilha sonora em acetato. O prato começava a girar, a agulha fazia ruído ao entrar no sulco do vinil e algo mágico acontecia de pronto: a mãe dançava, o pai soltava a voz de cantor de serestas, e eu e minha irmã, pequenos, entrávamos no baile.
Apesar de meus pais terem sido criados na era do rádio, nesta época as canções já não vinham apenas pelas ondas médias ou curtas do AM, mas dos discos de vinil, compactos ou long plays, tocados na grande novidade da época: as vitrolas, que inauguravam os modelos “dois em um”, de rádio e toca-discos. Sem falar que eram móveis de madeira nobre belíssimos. Este da foto mantenho como relíquia em minha casa.
Há explicações técnicas, filosóficas e sensoriais sobre a fruição da música e apreensão de frequências e harmônicos pelo vinil. Toda uma teoria acústica e cultural. Mas, para mim, isso tudo chegou depois. A primeira emoção foi feita de magia, vinda de uma bolacha preta e redonda que enchia a casa de felicidade e música (se me permitem a redundância).