Rádio Liberdade

 

Em 1956, depois de cumprir o expediente como locutor na Rádio Liberdade AM, de Canguçu (RS), o pai batia ponto com os amigos no Bar do Lito ou do Seu Alfredo. A partir dali, com os companheiros de seu Trio Serenata, palmilhava as ruas da pequena cidade, abrindo janelas e portas ao som de samba-canção. O percurso muitas vezes incluía um dos pontos de encontro da cidade: o Clube Harmonia – nome mais que perfeito para abrigar os seresteiros com seus caprichados arranjos vocais.

Na manhã desta quarta-feira, num dos inúmeros e surpreendentes ciclos de volta às origens que a vida nos proporciona, concedi uma entrevista para a mesma rádio (agora uma FM). Contei sobre meu disco, claro, e destaquei a enorme honra de falar a meus conterrâneos pelas ondas sonoras que, um dia, propagaram a voz de meu pai e as músicas que ele gostava tanto de cantar. A conversa (que está disponível na página “imprensa” deste site) terminou com a faixa Noite Cinza, samba-canção de minha autoria, cantado por mim e meu falecido pai, Paulo “Peixe” Paiva, o locutor-seresteiro. Então nossas vozes subverteram o tempo e irradiaram-se, juntas, em perfeita harmonia, na serenata imaginária transmitida pela rádio que se chama Liberdade.